
2024 promete ser um ano tanto desafiador, quanto interessante. O mercado de Fusões & Aquisições é forjado pelo ambiente econômico, regulatório e realidade setorial, entre outros fatores. Se por um lado, eu brinco que M&A é Miséria & Agonia (não é Mergers and Acquisitions), por outro lado, Fusões & Aquisições quase* sempre vão bem - obrigado! Muda apenas quem tem a vantagem competitiva: compradores ou vendedores. E 2024 será um ano para comprar.
Vamos dissecar os principais fatores que influenciarão M&A nos próximos meses:
1. Mercado financeiro está muito menos líquido, e vai continuar assim. O mundo ainda está em acomodação para a nova realidade de taxas de juros mais altas, novos equilíbrios monetários e de câmbio, e giro mais lento do dinheiro. Tem menos dinheiro para investir e fazer M&A.
2. A pandemia já acabou. O que tínhamos para aprender com a pandemia já aprendemos, e já corrigimos as ineficiências que podíamos resolver. Agora é prosperar na realidade como ela é. Qualquer transação que aguardava o término da pandemia já aconteceu ou morreu.
3. Façam o que eu falo, não façam o que eu faço. O mundo continua polarizado e incoerente. Se por um lado, as taxas de juros estão altas, por outro, governos estão gastando loucamente estimulando a economia. Vemos pouco apetite por fazer "o certo" se envolver sacrifícios ou mera possibilidade de ser criticado. Continuaremos ineficientes e incoerentes - desafio ou oportunidade?
4. Desglobalização. Em condições mais difíceis, é saudável concentrar os seus esforços nos mercados mais importantes e atividades core. Preservar valor antes de expandir! E como sempre, a agonia de uns é oportunidade para outros: muitos sairão do Brasil, mas outros aproveitarão esta janela de oportunidade para entrar em novos mercados e novos produtos. Campo farto para M&A
5. Sempre existem setores emergentes, Healthcare e technology seguem fortes no Brasil e no mundo, mas com menos enfoque em startups e venture companies - acabou o dinheiro, lembra? Energia renovável, baterias, iniciativas ESG seguem promissores fora do Brasil (mas por aqui, vejo pouca tração). Varejo tem uma oportunidade para se reestruturar no Brasil - tem muita coisa acontecendo (bom para compradores, lembra?). Bancos e mercado financeiro me parecem estar em uma crise de identidade, assim como Real Estate - espaço para muita coisa acontecer. Tem ainda o Agro, que é "pop" e salvou o PIB de 2023 e dificilmente vai repetir a proeza em 2024 - o que você acha?
6. Transações menores. Está infinitamente mais difícil fazer mega-deals, que combinado com Startups e Venture Capital andando de lado por falta de liquidez, joga o mercado para transações de tamanho médio. Na minha época de Deutsche Bank eu diria entre USD100-500 mi, mas talvez esses tamanhos pareçam um pouco altos para a realidade do Brasil.
7. Distressed nadando de braçada? Oh well… Bastante oportunidade para quem tiver estômago! No meu caso, parece que eu tenho o sistema digestivo inteiro pois sempre que me enfio nessas aventuras acabo engordando pra caramba. Deixarei para meus amigos que não se importam com peso e saúde (prefiro manter a forma).
Chegamos à segunda quinzena de dezembro olhando para 2024, que promete muitas aventuras e oportunidades. Recomendo aos meus clientes e amigos a arrumar a casa, readequar seus negócios à nova realidade de mercado com menos liquidez e mais focada em resultado (geração de caixa), e estar atento às boas oportunidades de mercado (inclusive M&A): elas aparecerão.
(*) M&A quase sempre vai bem - ênfase no quase - porque há momentos que a diferença de expectativas entre comprador e vendedor é tão grande, que fica muito difícil fazer a ponte e fechar negócio.
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