top of page

Quando o Facebook nos ensinou M&A e Valuation

Investment Banking

Nesta semana o Facebook nos ensinou M&A e Valuation!




Entenda o que levou o ícone das mídias sociais a perder USD120 bi de valor de mercado (Market Capitalization) em um só dia.




No último dia 25 de julho, o Facebook anunciou o resultado do segundo trimestre tão aquém das expectativas que suas ações caíram mais de 20% no after-market resultando em uma perda de valor de USD120 bi no valor de mercado da companhia. Foi a maior queda já registrada em um dia nos EUA, superando os USD91 bi que a Intel perdeu em Setembro de 2000 e os USD77 bi que a Microsoft perdeu em abril daquele ano.




Os recentes escândalos envolvendo a quebra de sigilo das informações dos seus usuários, a exposição de Mark Zuckerberg e seu modelo de negócios diante do Congresso Americano e uma grande dose de notícias falsas (fake news) contribuíram para a pífia performance do Facebook em 2018, mas há quem argumente que "fake" ou não, eram notícias velhas, que já haviam sido precificadas no valor da ação do Facebook. De fato, o valor de mercado do Facebook cedeu cerca de USD50 bi em março de 2018.




USD50 bi em março, USD120 em julho e mais um pouco antes e depois. As somas são enormes e é verdade que em 2018 o Facebook está no negativo, mas analisando um horizonte mais longo, seu preço está praticamente empatado nos últimos 12 meses, e em um horizonte ainda maior, a valorização das suas ações é surpreendente.




Porque Facebook vale tanto?

O que aconteceu no dia 25 de julho?



Nas palestras de valuation, fundamentamos o valor econômico-financeiro como uma reflexão da capacidade da empresa gerar valor (e caixa) no futuro. Sob este aspecto, o Facebook continua sendo um gigante, especialmente se considerarmos todas as ferramentas a seu dispor como WhatsApp e Instagram, entre outros. Sua omnipresença continua, reflexo dos 1,47 bilhões de usuários ativos registrados em 2T18 (cresceu em todas as regiões exceto Europa). O principal produto do Facebook ficou um tanto arranhado, mas continua sólido como nunca: nós, você, eu! (a não ser que você seja das novas gerações e prefira ficar distante do Facebook)




Os cerca de USD500 bi de valor de mercado do Facebook (já refletindo as quedas recentes) reflete o poder do Facebook, sua capacidade de gerar inteligência e influenciar comportamentos. Reflete a capacidade da empresa converter este poder em valor e geração de caixa. À 28x Price to Earnings (segundo Yahoo!Finance em 31/07/18), somente os serviços que conhecemos e sua geração de caixa atual não explicam um valuation tão alto. O mercado ainda acredita (e precifica) o que está por vir, e eu, particularmente, acredito que sua capacidade de influenciar vendas está muito, mas muito longe do seu potencial: a evolução do big data e de inteligência artificial favorecerão aqueles que controlarem a informação dos compradores, como o Facebook e LinkedIn. Faz sentido?




O que aconteceu em 25 de julho foi uma quebra desta expectativa substanciada no resultado trimestral muito inferior ao esperado. Enquanto que muitos fatores explicam este fenômeno há um em particular que merece atenção pois é estrutural: a corrida do Instagram para "aniquilar" o Snapchat e em particular o Stories do Instagram. Para quem conhece, o Stories apresenta de uma forma ainda mais dinâmica, alguns posts selecionados do usuário, mostrando micro-momentos sem registro na linha do tempo - a lá Snapchat.




Mas a receita no Instagram/Stories não compensou as perdas no Facebook. O Stories, mais dinâmico, teve bastante sucesso e conseguiu o que queria: reteve usuários, mas mudou seu fluxo e o fluxo de conteúdo. Esta mudança afetou a performance do Facebook e diminuiu o impacto da propaganda na plataforma, gerando menos receita, impactando os resultados como vimos. O stories posta uma propaganda a cada cinco posts no máximo, mas seu impacto é minimizado pela habilidade do usuário de "pular" o anúncio muito rapidamente.




Facebook é também uma aula de M&A. Facebook vs. Snapchat é um dos raros exemplos que podemos quantificar o impacto de NÃO se comprar um concorrente: no limite, USD120 bi. Facebook tentou comprar o Snapchat em pelo menos duas ocasiões: por USD3 bi em 2013 e no momento do IPO da Snapchat tinha USD30 bi de posição de caixa líquido (em linha com a oferta de compra feita pelo Google, que não foi aceita). Hoje sabemos que o Snapchat valeria muito mais do que o Facebook ofereceu pois com esta nova plataforma, o Facebook não só minimizaria o impacto na sua principal fonte de renda (ao ser menos agressiva para se ajustar às inovações do concorrente) como que já teria resolvido, supostamente, o acesso às novas gerações.




Enquanto a bolha do ".com" estourava em 2000 e a Intel e Microsoft fizeram as manchetes, empresas como a American Express e a farmacêutica Merck prosperavam. Naquele momento, se pregavam diminuir a exposição às empresas de tecnologia e montar uma estratégia voltada para pagamento de dividendos (real value) e empresas que se beneficiassem com o aumento da taxa de juros.




As semelhanças de 2018 e 2000 são meras coincidências? Talvez! Mas talvez o Facebook irá superar as adversidades como fizeram Intel e Microsoft e ainda terá a oportunidade de fazer muitas aquisições bilionárias, ancoradas no aprendizado com a não compra do Snapchat, e dominar a era do big data e inteligência artificial (que ainda não começou de verdade).





José Securato é Sócio-Fundador da Saint Paul Advisors, uma boutique de M&A.




Quer publicar com a gente? Envie seu artigo para Investmentbanking.com.br@gmail.com

 
 
 

Kommentare


bottom of page